SOBRE "LADO B"
Seguindo-se a um aplaudido primeiro álbum (Manhã), gravado em trio há apenas dois anos, este novo e aguardado opus de Luís Figueiredo vem confirmar (e transformar de esperança em certeza) o talento elegante e a maturidade tranquila de um jovem músico português que valoriza, em absoluto, a estimulante geração do nosso novo jazz e enriquece, mais ainda, a notável linha de pianistas de referência que o antecederam ou são seus contemporâneos. Instrumentista exemplar e compositor inventivo, Luís Figueiredo sabe em definitivo como construir, em Lado B, uma obra discográfica consistente e multifacetada que se vai desenvolvendo, na sua lógica interna, pela dialéctica sucessão de pequenas peças que mais parecem, numa primeira escuta, valerem pelo seu encadeado global, e em sucessivas audições se vão descobrindo pela sua individualidade. Contribuindo para o magnífico resultado final deste disco, Mário Franco e Alex Frazão são a dupla implacável que cimenta e torna estimulante a base rítmica, João Moreira é o inspiradíssimo músico de sempre e Ricardo Toscano traz aquela dose de impetuosidade, irreverência e descaramento que anuncia os grandes músicos. Mas é Luís Figueiredo que tudo entrelaça, sublinha e valoriza, num todo coerente, pleno de bom senso e bom gosto, iluminado da melhor maneira pela voz cúmplice, lisa e vibrada, de Sofia Vitória, ambos transformando numa obrinha íntima e singular a reprise final da despedida. Bem hajam. Manuel Jorge Veloso, crítico, baterista e compositor Música interesante e imaginativa, Luís va camino de convertirse en una de las voces más importantes del jazz de su país. Perico Sambeat, saxofonista e compositor A partir do momento em que tive oportunidade de ouvir o seu primeiro álbum – “Manhã”, em trio com Nelson Cascais e Bruno Pedroso –, Luís Figueiredo passou a ser um dos músicos da nossa praça nos quais venho depositando maior esperança. Ora, com este seu Lado B, projeto que me parece constituir o mais aprimorado veículo para a expressão do sentir musical de Luís Figueiredo, passamos à fase de absoluta confirmação relativamente a um músico que muito tem para acrescentar – e que já está a acrescentar – ao jazz nacional. Se, enquanto pianista, o contexto de trio lhe concedera, como é natural, um mais amplo espaço de manobra para nos dar conta das suas qualidades no manuseio do teclado e enquanto improvisador, os seus solos e os seus dedilhados não poderiam aqui, no instrumento acústico ou no Fender Rhodes, ser mais bem focados e concentrados na beleza e na essência do seu próprio trabalho de composição, área na qual agora se manifesta também como um dos mais interessantes atores no nosso país. Também a escolha dos parceiros que vieram dar corpo a esta música que, embora prestando merecida homenagem a Bernardo Sassetti, tem em John Taylor e em Kenny Wheeler as suas principais fontes de inspiração, dificilmente poderia, ela própria, ser mais inspirada. Em absoluto topo de forma, João Moreira derrama a magia da sua trompete por todo o álbum, mas não poderia deixar de destacar a superior musicalidade com que, fazendo perfeito uso da técnica de respiração circular, mantém no ar por quase dois minutos e meio aquela sagrada nota em “L’Aventure Commence”. Mário Franco, um bailarino do contrabaixo que parece ter feito um regresso à grande forma nos últimos tempos, em grande parte exatamente pela sua associação a vários músicos da nova geração, tem em “Silence” (de Charlie Haden – o único não original de Figueiredo) e no referido “L’Aventure Commence” dois excelentes veículos para todo o lirismo (e enorme precisão) que é capaz de alcançar com o seu contrabaixo. Pouco mais haverá, neste momento, que se diga sobre Alexandre Frazão, esse fantástico motor rítmico que enriquece qualquer projeto em que se veja incluído e que só poderia, por isso mesmo, representar o baterista ideal para os mais diversos ambientes rítmicos percorridos neste álbum. Ricardo Toscano, instrumentista impressionante em plena ascensão no jazz nacional e do qual muito se há de falar nos tempos que aí vêm, é convidado para fazer “brigar” (e muito bem) o seu sax alto com a trompete de João Moreira em “Slow-Mo” e em “Plastic Fantastic”, o mais enérgico e rebelde tema do disco. Sofia Vitória canta a letra que escreveu para uma reprise de “Looking Out The Window” que constitui um final feliz para um dos mais bem conseguidos álbuns até hoje gravados em Portugal. Paulo Barbosa, crítico Disco maduro de um brilhante pianista e líder que revela um sentido muito apurado da gestão das emoções. Os temas desenrolam-se quase como se uma história estivesse a acontecer. Talvez pela combinação de Rhodes e trompete o som do grupo por vezes brinca com os fantasmas de um dos meus discos de Jazz favoritos, o Water Babies de Miles Davis, mas da forma que é a certa. Sublinho a brilhante sintonia e interacção de todos os músicos envolvidos, a servirem uma música muito bem concebida, que tem a inteligência de enaltecer os seus registos mais visíveis e únicos. Mário Delgado, guitarrista Luís Figueiredo assume-se como uma das vozes mais interessantes do piano no jazz em Portugal. (...) Um disco muito conseguido de alguém cujos passos importa continuar a seguir atentamente no futuro. António Branco, crítico (jazz.pt) Bons temas de LF e presença ***** de JM. Bom compacto jazz everywhere. José Duarte, crítico (jazzportugal.ua.pt) Se "Manhã" revelou a clareza do som do piano, pontuado pela elegância e a contenção, LADO B é um projecto mais ambicioso, onde se revela a vontade de trabalhar um som mais cheio. As ideias de Figueiredo são executadas com um grupo consistente, sobressaindo a forte precisão de Frazão a ir ao encontro da segurança de Franco. (...) A qualidade técnica do pianista já havia sido exposta no disco de estreia e agora, mais do que mostrar um lado oculto, desvenda em LADO B uma faceta mais aberta e colorida, um corpo musical mais dinâmico onde o piano se afasta dos holofotes para, generosamente, ceder espaço aos outros instrumentos. Nuno Catarino, crítico (Público) |
SOBRE "PALAVRA DE MULHER"
Amigos da boa música, Recebi este CD, ainda sem capa e informações, com um pedido muito carinhoso de meu amigo, José Serrão, para escutá-lo e dizer alguma coisa. Escutei os meninos. Tive que achar um dia em que estivesse tranquilo, pois ao escutar rapidamente a primeira faixa me dei conta que teria que escutar com calma. Pois bem, fi-lo e estou MARAVILHADO. Eles são espetaculares. Há muito não escuto a obra de Chico de uma maneira tão diferente, moderna, mas com um bom gosto e um talento tão intensos. No Brasil, quem teria chegado mais perto, se quisesse, seria a Zizi Possi, no formato que ela criou no começo dos anos 90, bastante minimalista, mas imensamente moderno e imprevisível. Sofia e Luís seguem na mesma vertente, na mesma ousadia, e conseguem um resultado surpreendente. Todas, eu afirmo com certeza absoluta, todas as faixas são uma surpresa. Deixam o belíssimo texto buarquiano exposto, muitas vezes de forma quase crua… o que é maravilhoso, pois que raro nos dias de hoje. Sofia canta em ‘brasileiro’, ou melhor, em ‘carioquês’, de maneira notável. É uma carioca cantando. Os timbres sussurrados são DEVASTADORES. A variação tímbrica da voz dela funciona muito com a dinâmica dos textos, o que serve ao texto com muita intensidade. Vocês são achar graça, mas, em determinados momentos, a voz dela lembra, de longe, os melhores momentos de Elba Ramalho, sem o sotaque, claro. Mas o que prevalece é a voz multi-timbral, que varia da delicadeza ao trágico, do alegre ao melancólico, com uma naturalidade brilhante. Bom lembrar que Elba é uma atriz que canta e conta as canções. São pouquíssimas no Brasil. Sofia canta e conta, por sinal muito bem. Acho que o Chico, quando ouvir, vai ter uma síncope, vai maravilhar-se. E, para somar-se à maravilhosa atuação de Sofia, temos o piano e os arranjos do Luís. Uma aula de como acompanhar uma cantora ao piano. Citaria uma das faixas para este caso específico, que é “Atrás da porta”, que começa com uma introdução a la Rachmaninoff, e entrega ao canto de Sofia uma sensação do que virá ‘contado’ depois. Pela primeira vez, esqueci a versão da Elis. Juro. Luís dá uma aula de inventividade nos arranjos. Chega à beira do teatral. E mistura jazz, com clássico, com efeitos sonoros, todos acústicos, feitos pelos excelentes músicos que convidou para tocar. Mas os textos sempre pediram isso. Algumas canções vieram de peças mesmo. As que não, poderiam muito bem, depois desta audição, estarem também dentro de peças. Tudo é muito intenso e lindo. O bom gosto harmónico do Luís me deu um prazer a mais, claro. Sua forma de tocar, muito na escola dos melodistas minimalistas (Keith Jarrett, Herbie Hancock, etc.) é encantadora. Minha escola favorita, apesar de eu muitas vezes não segui-la. Mas tento. Aliás, agora, depois dessa audição, vou tentar mais... Estou extasiado. Feliz. Mesmo sabendo que não foi feito no meu país. Foi o caso deste trabalho fabuloso. FABULOSO!!!!! Parabéns mesmo. Grande abraço, Ivan Lins To recall the deep song and duende of one of the most remarkable Brazilian artists alive the exquisitely talented vocalist Sofia Vitória and her pianist and arranger partner, Luís Figueiredo have created a remarkable homage, Palavra de Mulher. Raul da Gama, The World Music Report (LER CRÍTICA COMPLETA AQUI) SOBRE "MANHÃ"
Um primeiro disco como este não é vulgar. Luís Figueiredo revela-se um pianista com todas as qualidades que admiro: grande sentido rítmico, enorme riqueza melódica e harmónica e um belíssimo som de piano. Um prazer da primeira à última música. Neste sentido, o título do álbum - "Manhã" – tem algo de premonitório. É a alvorada de um grande músico. Mário Laginha (liner notes do disco) (...) Ao concordar com Laginha, estamos, naturalmente, a reconhecer no jovem pianista um músico completo, que revela já uma louvável maturidade nos aspectos mais cruciais na feitura de música de qualidade, maturidade essa que se revela ainda na escolha de dois dos mais fiáveis artesãos do ritmo no jazz nacional – Nelson Cascais e Bruno Pedroso – para completar o seu trio. (...) Figueiredo revela uma notória aptidão também na área da composição; por vezes devedor ao próprio Laginha ou a Keith Jarrett, Figueiredo não deixa, no entanto, de tornar clara uma apreciável originalidade nesta matéria. Paulo Barbosa, crítico (Jazz 6/4) (...) Neste disco de estreia, que augura um futuro de grandes cometimentos, Figueiredo apresenta oito originais e um standard, marcados por uma atmosfera suave em que prevalece uma admirável elegância de processos. Vamos certamente ouvir falar muito sobre este pianista a curto prazo. Rui Branco, jornalista (Diário de Notícias) (...) O piano de Luís Figueiredo tem um óptimo som e ao longo do disco vão sendo reveladas boas ideias e deliciosos detalhes. Nelson Cascais e Bruno Pedroso, dois valores seguros da cena nacional, cumprem a função rítmica com a tradicional competência. (...) Figueiredo tem aqui a sua confirmação na prática, afirmando-se um bom executante e compositor. (...) Um óptimo valor nacional do piano. E um disco a que vale a pena dar toda a atenção. Rui Catarino, jornalista (Público) Uma estreia conseguida que eleva expectativas para os próximos capítulos. António Branco, crítico Figueiredo demonstra ser um estudioso do piano e dos pianistas que fizeram/fazem a história do piano-jazz e não revela neste Manhã a tendência para o copy-cat. Rui Duarte, crítico (Jazz 6/4) |